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domingo, 15 de dezembro de 2013
Roberta chegou afogueada

Roberta chegou afogueada




Conto de Maurem Kayna


Roberta chegou afogueada. Na mochila com estampa de girafinhas trazia os materiais solicitados pela professora – revistas para recortar, cola, tesourinha sem ponta e coisinhas coloridas garimpadas na caixa de costura da mãe.
Deixou sob a mesa as promessas de festa, e acompanhou impaciente as explicações sobre maçãs que se somam e podem ser repartidas com certo número de coleguinhas. O trabalho de colagem seria somente depois do recreio e a espera tirava gosto à merenda e às brincadeiras.

Quando espalhou sobre o tampo de fórmica os seus tesouros, sentiu-se pouco à vontade com a desordem da classe e de tantas coisas coloridas, mas não deu mostras do desconforto. Ao contrário, sua franja loira e bem cortada emoldurava uma expressão de calma, sempre capaz de conquistar a simpatia dos adultos.

Os grupos foram formados entre a euforia dos pequenos e a impaciência da professora, que orientou sobre os cartazes a serem preparados. Recortar em revistas amassadas os desejos para o futuro do planeta não atendia às expectativas de Roberta. Ela sonhara mais diversão - gostava especialmente das imagens de construções imponentes, de aviões estampados em céu ensolarado ou tratores em campos intermináveis. Imaginara um tipo de colagem para satisfazer seu gosto por cores, sem regras de tema, apenas as combinações mais aprazíveis é que interessavam. Já tinha brincado de fazer bichinhos de papel marchet e aquela chatice de cartolina verde para receber recortes desalinhados não era um estímulo para a aceitar a manhã de confinamento.&nbsp
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Pâmela voltou para

Pâmela voltou para




Conto de Alex Azevedo Dias.


Pâmela voltou para o apartamento que dividia com a amiga. Apesar da insistência de Rômulo para que novamente morassem juntos, as feridas que ainda não cicatrizaram a impediram de ceder. Ela foi sincera com ele. Disse que ficou muito tocada com sua declaração de amor, mas não poderia retornar. 

Uma lágrima contida deixou-se notar, de viés, bailando na pálpebra inferior. Do fundo do seu coração, Pâmela abominava a ideia de sair da casa de Rômulo. Mas estava com uma nova vida em construção, num lugar longe dali. Também temia que as mágoas se repetissem. Não acreditava que seu amado não fosse mais inventar outro incômodo para motivar o rompimento da relação. Da primeira vez, alegando inconformismo pelo excesso de amizade e decréscimo da paixão, comportou-se estranhamente, culminando na saída de Pâmela. Rômulo quase não a percebia mais pela casa. Tornou-se indiferente, insensível.

Depois de tanto tolerar seu afastamento emocional, Pâmela chegou ao limite do suportável. Numa noite, ao voltar do trabalho, Rômulo teve uma surpresa: Todos os pertences dela foram empacotados. Bagagens e malas arrumadas no canto da sala. Ele tentou impedi-la de sair. Já era tarde. Pâmela preparou tudo com antecedência. Até um emprego tinha conseguido em outro estado. As coisas estavam ajeitadas, inclusive já havia combinado com uma amiga para dividir o apartamento. 

Rômulo ficou estatelado perto da porta ao se deparar com Pâmela de saída. A transportadora estava à sua espera. Dois homens entraram para pegar as coisas e levá-las ao pequeno caminhão que os aguardava. Rômulo ainda tentou segurá-la pelo braço. Pâmela se virou, apenas o olhou e disse: "Que fique bem claro que você me abandonou antes. Eu só estou saindo de sua casa porque você já tinha ido embora há muito tempo. Só o que restou foi seu corpo. Já sua alma, não estava mais aqui comigo.". E seguiu até o caminhão, sem mais olhar para trás nem permitir que Rômulo dissesse uma única palavra de despedida. 

Aos trancos e barrancos, eles seguiram suas vidas. Apesar da falta que sentia, Pâmela conseguiu se adaptar aos novos ares sem maiores problemas. Rômulo manteve a mesma vidinha de sempre. Mesmo tendo esfriado com ela, desinteressando-se do calor da cama, com a ausência da mulher sua tristeza só denunciou o amor que ele acabou desprezando. 
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Debaixo de uma

Debaixo de uma



Conto de Leila Krüger.

Sentada em cima de um tênis All-Star sujo cinza, as calças largas devido à esqualidez, os cabelos untados de suor e possivelmente caspas caindo-lhe nervosamente sobre os ombros encolhidos; e, finalmente, a mão magra de ossos protuberantes sobre a concavidade que provinha de seu ventre: sua criança, dentro da barriga, uma vida querendo nascer.

Debaixo de uma ponte qualquer, em uma capital qualquer dessas onde todo dia milhares se perdem. Repletas de sombras, fantasmas, fome.

Abandonada.

Ainda tinha um celular, sem crédito, poderia ligar a cobrar. Mas para quê? Todos a tinham abandonado. Era assim que as pessoas faziam, elas abandonavam quem mais precisava de cuidados. Havia três meses ela carregava aquilo, aquela criança que chamava de aquilo, consigo. Não sabia se sentia amor, se sentia raiva, se sentia ambos ou nada. Não sabia mais para onde ir, mal sabia de onde vinha.

O pai daquela vida na barriga estava desaparecido. O celular, quando ligava para ele, falava que estava fora da área de cobertura ou temporariamente desligado. E aquela garota suja e triste ligara centenas de vezes para ele. Pior que ainda o amava. Talvez agora finalmente tivesse desistido. Ela, ali, apenas com seu filho. Não o sentia como filho, era mais um fardo. Era aquilo. Por mais cruel que possa parecer.

Ela tinha fugido de casa. Mas, antes, seu pai já dissera que teria de ir embora, já que tinha “engravidado daquele calhorda irresponsável drogado”. É verdade, drogado, como ela, embora ela tivesse ficado só no baseado e deixado o pó. Não tinha mais verba para nada, muito menos para uma erva que a acalmasse. Há dias sem fumar, sem beber, sem quase comer. Pedira umas coisas na rua.
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Desajeitadamente,

Desajeitadamente,



Conto de Alex Azevedo Dias


Desajeitadamente, ergueu os braços. Apoiando-se na parede com uma das mãos, com a outra, mexendo os dedos e movimentando o braço em semicírculo, tateou, com cuidado, os objetos à sua volta. Fechou os olhos para fingir certo controle. Achava que a escuridão intencional fosse preferível à imposta. Com os olhos fechados simulou o breu do mesmo jeito que simulava quando criança. 

Por volta dos treze anos, mais ou menos, Rico, como era carinhosamente chamado por sua mãe, ao entardecer, andava na varanda da casa dos seus pais com as pálpebras cerradas e os braços esticados para frente, tateando tudo que encontrasse pelo caminho. Nessa idade, Américo era assombrado pela angústia da cegueira. Por ter um glaucoma avançado, os médicos desenganaram-no, antecipando a fatalidade visual pela degeneração ocular. 

Tentando assimilar o fantasma da cegueira, ele fechava os olhos diariamente naquele determinado horário e andava, imerso na escuridão provocada e consentida, para se acostumar com a falta de visão que chegaria galopante num futuro próximo. Por ser filho único, sua mãe o cercara de mimos, apesar dos protestos silenciosos do seu pai. Embora detestasse o apelido que sua esposa pusera em seu filho, tolerava sem reclamar, pois de certa forma se sentia culpado pela doença de Américo. Sendo médico, inexplicavelmente deixara escapar os sintomas - mesmo que não fossem tão evidentes assim - da tragédia que se abatera sobre seu filho. 

Américo não se sentia amado por seu pai. Mesmo antes que mergulhasse no mundo de sombras, acreditava que fosse completamente invisível para seu pai. Enquanto sua mãe o cobria de atenção, pecando pelo excesso de zelo, seu pai não se dirigia a ele nem para lhe educar ao se perder pelos desvãos da infância. Gusmão vivia soterrado por suas obrigações no hospital. Quase nunca aparecia em casa. E quando estava de folga e não tinha que cumprir plantões e exaustivas jornadas de trabalho, trancava-se em seu escritório particular e, de lá, quase não saía. 
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Tens o beiço

Tens o beiço



Poema de Sel



Tens o beiço vermelho. Belo beiço!
Ao trazê-lo a mim, tão perto, eu gaguejo
E a beiçar, com gosto, outra boca; isso:
Na minha fica o gosto de desejo

Quando tu rodas, assim, sempre alegre
Que alegria! Esqueço, enfim, o remorso
Amor!, quero-te tanto que me feres
E a ferir-me, ao querer-me eu já não posso

Nessa dança (flor ardendo n'areia)
Brincar contigo sem nenhum receio
Mas se embora vais a carne esperneia

Anseia jazer somente em teu seio
Tua ausência, ó Amor, ai que martírio!
Que eu morra, pois, na seiva de teu lírio





Créditos da imagem:
ciranda, por nerry costa


Palavras-chave:  
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Assim posso dizer que

Assim posso dizer que




Conto enviado por Sheyla Smanioto


Acho que os dentes vão ressuscitar muito menos do que as outras partes do corpo. É que eles parecem sobrar da nossa morte, escancarados em um sorriso que não tem fim nas carnes gengivais, já que continua por toda ossatura e por todo cabelo que, por ter a mesma persistência dos dentes, sobrevivem aos vermes: sorriso de corpo inteiro, sem carnes para emoldurá-lo. Que privilégio, sobreviver aos vermes. Talvez por esse privilégio os dentes me espantem tanto, ou talvez por algo que eu não possa explicar – mas o fato é que hoje acordei novamente de tê-los sonhado e tive a sensação, quando acordada, de que sobravam do sonho em mim, sendo uma dessas coisas que, sem escrúpulos, confundem matéria e espírito.

Sim, sobravam do sonho em mim: como se não fossem somente dentes, mas os restos de meus sonhos fincados na forma óssea de rechear maxilares. Sempre me pareceu, afinal, que se as obsessões tivessem forma, elas teriam a forma persistente do cálcio arremedado. Como as minhas obsessões são verbais, nada mais justo do que elas brotarem na minha boca de carne e sangue e, confundindo-se a todos os céus e sistemas salivares que a compõem, ficarem prostrando-se com os dentes na fazedura das minhas queridas e fadadas consoantes (desespero-me ao imaginar o que eles podem colocar no meio delas!).

No que sobrara do sonho em meus cabelos, trazido à memória pelo meu pequeno ritual de sempre mantê-los no lugar quando acordo, eu me via arrancar os dentes delicadamente, embora sob a dor metafórica dos dentes arrancados. Não sei que desdobramentos esse gesto encontrado no fundo de meus anseios teria para a trama secreta de meus sonhos, nem quais ambições o fizeram se meter nas tramas de meu cabelo, mas logo soube de uns desdobramentos desse gesto naquilo que eles inevitavelmente significavam: sonhar com dentes é ter dormido sob a baforada quente da morte.

Eu arrancava o dente, delicadamente mas sob a dor sanguínea dos dentes arrancados, e descobria que dentro dele havia outro dente, que eu também arrancava, e mais outro, tirado não por mim mas pelo hábito, até que eu percebesse que a dureza dos dentes guarda em seus sonhos uma dolorosa flor óssea. Até que eu percebesse que o sangue também leva um pouco do dente: eu podia senti-lo arrastando deles uma nesga, tão pequena diante de buracos negros e proposições universais, que parecia arrancada pela pressa de um urubu faminto por depositá-lo pela graça dos sucos digestivos no buraco negro comum do estômago.

Não gosto desse apego incomum do sangue, porque ele deixa algo do dente morto em mim, e exatamente da forma como os mortos sobram nos vivos: revirando-lhes os estômagos pelas coisas que insistem em ficar dentro, que não se vomitam nas lágrimas. Não deveria admitir esse meu capricho, porque talvez diga mais sobre mim do que estou disposta a mostrar, mas por algum motivo que ainda desconheço eu gosto de sentir meus dentes arrancando. Em certo ponto, percebo que eles não pertencem a mim; nossa conexão, antes tão profícua, amolece. Não sei do que são feitos, e eu sou feita também deles – o que me parece uma injustiça; por que não arrancá-los?

Agora que escrevo percebo o quanto meus motivos para gostar de sentir meus dentes arrancando são como dentes plantados nas gengivas de minhas angústias. Vai ver que guardam meu lado desconhecido e, por isso, eu me apraza tanto em arrancá-los: o gosto de sangue na boca, a carne dengosa das gengivas outrora rasgada para que ele irrompesse, rasgada agora para que eu o arrancasse. Pensando bem, não ligo para os dentes: mas que delícia é rasgar a carne. Pensando bem, entendo a gana dos dentes: se me dão a chance de insurgir assim, nascendo novamente desse big bangque é a carne explodindo uma gente ou um dente, eu nasceria, nem que precisasse então morrer duas vezes por ser duas vezes nascida.

O dente arrancado em meu sonho deixa um buraco maior do que ele; fico angustiada: de alguma forma, não arranquei somente o dente, mas tudo que com ele se confunde (na maneira obtusa que os sonhos têm de confundir). Arranquei o dente, e com isso talvez ele tenha arrancado de mim tudo que enquanto estávamos juntos ele julgava ser dele; um pouco de gengiva, e sangue, mas muito mais do que isso. Quando acordei, constatei aliviada que haviam me devolvido o dente, mas as coisas com ele confundidas na pá dos sonhos ainda faziam falta (não sangravam, como ele, mas deixavam como ele deixaria um rastro de sangue).

Não saberia dizer se me arrancaram as coisas incisivas, as coisas caninas ou as coisas molares. Apenas sabia que eram uma dessas coisas desconhecidas que a minha carne agarra e, na dor, lamenta o desgarramento. Coisas que eu acordei com o sincero intuito de separá-las, como quem arranja pares entre as meias, em incisivas, caninas e molares, para quem sabe assim plantá-las com algum sucesso em minha memória.

Quando acordei, notei que agentes da prefeitura arrancavam do chão da calçada de minha casa uma árvore molar, por ter trincado a calçada em seu espreguiçar natural. Assustei-me com a perspectiva, surgida na pressa de inventar entre nós um último laço (depois de eu por tanto tempo ter me nutrido de quaisquer vitaminas e bichos que suas goiabas produzem), de que cobrissem minhas gengivas como cobriram as da goiabeira de minha infância, de que arrancassem com ela a minha infância devorada como se por um dos bichos de suas goiabas ou, no mínimo, a minha suspeita devoradora de que meus sonhos chegavam pelas folhas daquela árvore de os sonhos treparem.

Sem pestanejar, arranquei-me de uns lençóis vermelhos e me debrucei na janela, que em meu quarto abraçava a cabeceira da cama, para ver se a árvore resistiria a ser arrancada como os meus dentes no sonho (revelando-se uma flor dolorosa). Pensando bem, tem dias que eu preciso que me venham arrancar da cama como a árvore de sua gengiva, como o dente de sua terra. Mas vê-la sendo arrancada sob o barulho de serra elétrica ou de uma daquelas máquinas de dentista, não consegui ver ao certo do que se tratava, doeu nas carnes de minha relação com o dia: lá dentro de meu dente do fundo, uma saudade doía.

A dor me suspendeu diante do mundo, mas ele continuou afoito. Passei minha língua pelos dentes e senti o gosto de sangue, que provavelmente já estivera ali há algum tempo me alertando o perigo de meus olhares; lá fora, a árvore, molar, mantinha-se em pé diante dos muitos homens que tentavam tombá-la em cima de seus deveres e obsessões. A essa altura, tentavam envolvê-la com uma corda para, talvez, controlar a queda daquele dente que cairia mordendo o mundo. Passei a língua e ela encontrou o botão de minha dor: com os dedos verifiquei que, como a árvore atravessada pela serra e envolvida por uns dedos de corda, meu dente amolecia.

Tive medo do que ele poderia guardar dentro, porque sua dor tinha um ineditismo desenfreado, cujo sabor eu sequer conhecia. Fiquei pensando que tipo de artimanhas guardava esse seu capricho, com medo de que fossem as artimanhas de fazer crescer caprichos e, numa euforia geral de sonho, tombar os dentes, como um desequilibrado alinhamento de pedras de dominós de dobra branca (sem pio, cárie ou duque, posso lhes garantir).

Segurei o dente com os dedos e, como uma pestana que ardorosamente quer servir aos pactos de desejos das crianças, ele saltou de seu chão, rasgando o equilíbrio de minhas carnes que, dramáticas, sangraram. Fui tentar conter o sangue tapando o buraco que sobrara de meu dente, mas minha mão, desajeitada para o delicado espaço da boca, esbarrou nos dentes que o rodeavam e eu percebi, com um desespero canino, que todos os meus dentes estavam moles.

Lá fora a árvore resistia, e eu queria uns dentes plantados como ela. Meus dentes, porém, começaram a chover nas minhas mãos, misturando-se a uma leva de sangue; caíam sob uma dor fina, menor que a dos dentes de leite, talvez porque estes quisessem permanecer um pouco mais na constelação da boca, enquanto os meus dentes adultos explodiam com tanta palavra guardada entre eles (e não precisavam de linhas nem portas nem alicates). Com os dentes caídos nas mãos, chorei como se ninasse uma cria morta: tudo bem que os sentira como alheios a mim, mas eu não era alheia a eles e, com eles saltados assim de minhas gengivas, eu chegava a temer por minha vida.

Assim posso dizer que, naquele momento, meus medos se dividiam entre: incisivos, caninos e molares. Meus medos incisivos temiam por minha sobrevivência dali em diante, caso escapasse a leva de episódios incomuns em que de repente se transformou minha vida. Meus medos caninos temiam pelo possível enfrentamento com a morte, que eu certamente não poderia encarar com a frágil estrutura de minhas unhas, que dirá de meus cabelos. Por fim, meus medos molares temiam que, depois de ter sido derrotada pela persistência da morte, não houvesse dentes para sobrar de mim na morte, isto é, não houvesse de mim o que permanecer para sobreviver aos vermes.

Não pude não pensar, diante dessa arcada temerária, que minha ossada não sorriria por ter desbravado e vencido as manhas dos vermes, e sim se manteria intacta para rodear o primeiro buraco negro de que se tivera notícia (a boca do homem, depois de ter engolido um céu inteiro todo para si), quando meus restos fossem um sorriso que, sem dentes, deixaria ver as demências e as palavras que por trás deles se esconderiam, sugando para si todo o resto. Além disso, sem o sorriso dos mortos talvez julgassem que minha morte foi outra e, pior ainda, talvez sequer reconhecessem a vida que venho guardando nas sombras dos ossos através de um dedicado cuidado de meus ossos expostos e de minhas dentições íntimas.

Quando acordei da vida, não sei se para a morte ou para outro sonho, fui logo escovar os dentes que retornaram à minha boca ainda mais uma vez. Escovei com capricho, como quem prepara o seu sorriso para sempre, como quem o veste para a morte; escovei com afinco, sorrindo antecipadamente para os vermes que viessem; escovei, imaginando se era esse desespero de ter o que deixar para a morte, para o reconhecimento de meu corpo quando a árvore tombada por um descuido o esmagasse sem dó, o que os dentes guardavam em sua dor em botão. Aqui dentro a árvore tombou, finalmente, e levou tudo com ela. Sorte que o meu sorriso sobrou.
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Tenho uma certa

Tenho uma certa



Crônica enviada por Caroline Duarte.


Tenho uma certa inveja de pessoas decididas. Como pode? Não ter um pingo de incerteza, medo, receio ou insegurança sobre o que fazer. Pensa e faz, assim, sem reclamar, ficando plenamente satisfeito com a escolha sem nenhuma dúvida. Eu, na altura de meus 23 anos - idade em que muitos já estão formados, pós-graduados, trabalhando em seu próprio negócio, já viajaram pela Europa inteira, são fluentes em 3647593 línguas e já conseguiram o primeiro milhão - ainda estou aqui, sem saber qual faculdade cursar. As vezes me sinto tão perdida. Tenho várias ideias mas o Se e o Será? são companheiros de cabeceira... 

Sabe quando parece que algo te prende?

Penso em todas as coisas que já fiz até hoje. Muitas outras não realizei por dúvida. Insegurança. Começar um curso e não gostar. Iniciar um negócio que pode não dar certo. Começar uma relação, amorosa ou de amizade e frustrar-se por colocar expectativa demais, ou mesmo esperar que aquela pessoa faça por ti, o que você faria por ela. O que é raro acontecer...

Gosto de escrever sobre meus sentimentos justamente porque eu sempre termino me questionando. Agora eu penso que talvez, essas pessoas "decididas" sejam como eu sou. Quem sabe elas também sentem medo. Talvez vários se e será, rondam seus pensamentos assim como acontece comigo. E não, talvez elas não saibam se aquilo dará certo mesmo. Mas, ainda assim, elas vão em frente. Mesmo com 99% de chances de tudo dar errado, elas correm atrás do 1%. Elas vão, mesmo correndo o risco de sofrerem, de se frustrarem. Mesmo podendo fracassar elas persistem. E é assim que a coisa toda funciona! A insegurança existe, mas, o que nos diferencia é como agimos diante dela. Se ficaremos paralisados pelo medo, apenas vendo os outros realizando sonhos que são nossos, ou se vamos deixá-lo de lado e ir em frente. Quantos nãos certas pessoas já ouviram até alcançar seus sonhos? Quantas vezes tropeçaram ou até caíram antes de chegar aonde queriam? É bem mais fácil achar que não vai dar certo e nem começar. Mas, já reparou que quando você sai da sua zona de conforto, e tenta, suas chances aumentam? 

Então eu termino minha reflexão deixando de invejar pessoas decididas. Pois agora entendo que ser decidida, acima de tudo, tem mais a ver com a forma que você lida com suas frustrações. Não quer dizer deixar de sentir medo, incerteza ou insegurança. Apenas significa confiar em si mesmo e, por mais que lá na frente o fracasso aconteça, saber que você irá levantar, tentar outra vez e aprender com sua dor.
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mas eis que

mas eis que



Crônica de rogério fernandes


são três versões da mesma pergunta - e vieram a mim a partir de uma experiência concreta. em fortaleza são conhecidas as barracas onde se vendem os produtos das rendeiras, engendrados sobretudo por artesãs, as rendas são feitas de uma variedade de "tramas" que a linha ao ser rendada vai formando para criar o tecido que se fará vestido, saia, cortina, rede, objetos de vestir e cobrir que são a própria essência da cultura nordestina. são coloridas - lembro que nos anos de menino minha avó rendava apenas uma cor - e em alguns lugares, como no centro das rendeiras, no caminho para canoa quebrada, pode-se confundir o espaço com os mercados populares do magreb - a influência árabe sobre o comercio nordestino é conhecida - e imediatamente cantar o conhecido baião, um mantra do inconsciente de ser brasileiro - do cantador diante da artesã: "olê muié rendera/olê muié rendá/ tu me ensina a fazê renda/ que eu te ensino a namorá." estive por lá alguns dias atrás e caminhar pelo mercado me fez lembrar do baião de luiz gonzaga, e as palavras de josé wisnik sobre a composição: a renda se entrelaça com a poesia popular e tanto poesia como fazer renda são igualmente trabalho e desejo, a palavra e os sons são a renda do poeta que tece no vazio o tecido repleto de significados. lembro que cantarolei o baião ao que fui seguido imediatamente por uma das tecelãs. óbvio que a minha caiporice fez com que eu me calasse. mas segui com a renda na cabeça, e de imediato veio à memória a figura de torquato neto, poeta piauiense, e o belo baião-existencial que caetano teceu para ele, cajuína.

acabara de tecer a minha renda de associações, e fiquei com a canção comigo, "existirmos, a que será que se destina"? estar em fortaleza, cidade turística de grande apelo a alegria, talvez não estimulasse grandes reflexões não fosse a conversa que tive defronte ao mar com uma amiga na noite daquele dia. a ironia do tema e do ambiente não me passaram despercebidas. como os personagens do conto "o espelho", de machado de assis, conversávamos amigavelmente sobre questões de alta transcendência; a vida, a morte, o seu sentido. o desejo de abreviá-la. ela defendia que não haveria sentido para a existência além do sofrimento que causamos uns aos outros, e a brevidade seria um ganho, que pouparia o tédio da caminhada. eu argumentava que o sofrimento, mesmo ele, serviria para uma espécie de aprendizado pessoal, isso não implica em "melhora" da pessoa, o aprendizado não nos faz melhor, nos faz diferente do que fomos um dia. o tédio se preenche com a busca para a pergunta pelo sentido da existência. ao nos perguntarmos "a que será que se destina?", mesmo sabendo que a resposta não virá, justificamos o giro em torno do próprio rabo. curiosamente, eu, que sou devedor de machado de assis, busquei em guimarães rosa os argumentos para o sentido da existência, vejo que o vislumbre da linguagem, da cultura e do estar entre as gentes, justifica a caminhada. ela, que também adora o rosa, portou-se como uma machadiana, limitando-se a explicar-me o mundo como um caminhar sem muita sedução. o enfado do eterno mistério. engraçado a associação que fazemos de temperamentos, eu a via como o rosa, agora a vejo como ela mesma, embora ainda haja momentos em que a pressinto entre clarice lispector e ana cristina césar.

não a convenci. tampouco fui convencido por ela. acho que somos feitos de impasse. mas chegando a são paulo fui ao texto de wisnik, que se detêm na interpretação da canção de caetano. no texto, ele recorda três versões da mesma pergunta. uma feita por guimarães rosa, outra por heidegger e a terceira por caetano. argumentando em causa própria, passeio pelo texto de wisnik, sabendo que as iluminações são dele, embora algumas luzes venham de safra própria.

em "campo geral", ao final da estória, o menino miguilim observa o mundo pela primeira vez com o auxilio dos óculos. o reajuste das perspectivas desvela novas possibilidades, que não estão isentas de ressignificação por parte do menino.

"Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo..."

o "tudo" embutido na visão-descoberta de miguilim dá o tom de grande especulação sobre coisas que agora estão descortinadas, a vida tonteia, agride e seduz. a nova perspectiva faz com que ele interpele a mãe: "Mãe, mas por que é, então, para que é, que acontece tudo!?" a resposta é o abraço da mãe: "Miguilim, me abraça, meu filhinho, que eu te tenho tanto amor..." a resposta ao estar no mundo sozinho é a expectativa de um abraço? mas são tantos (des)abraços que a pergunta por que é, para que é, não se pode responder (talvez não se queira), pois ela parte de uma experiencia literária de desamparo humano. o velho mundo das seguranças se repõe no contato com o corpo e com o afeto. não será possível reconstruir na nova visão de mundo a segurança destes afetos, mas, no entanto, e como paradoxo, o momento existiu naquela materialidade, tornando a travessia suportável. neste sentido, talvez a vida se justifique pelas travessias e afetos, também passíveis de sofrimento, que vão se sobrepondo ao longo da experiencia de estar no mundo.

heidegger se questiona "porque existe afinal ente e não antes Nada?" penso que a pergunta perpassa as de caetano e guimarães colocando o problema no campo das relações entre o eu e o outro diante do vazio. entre o eu e o outro há o nada a ser preenchido pela estranheza de se estar no mundo. ou a "estranheza plena" do ente "como absolutamente outro - em face do nada". a vertigem de se estar em suspenso no nada e diante do outro.

mas, a que será que se destina? existirmos, implica em estarmos juntos na experiencia humana, ainda que sós. e olharmo-nos intacta retina repõe esta solidão coletiva que se cruza no desamparo daqueles que ainda são, e estão a velar o mundo que se esvai lentamente. no fim, o jogo se dá diante das incertezas compartilhadas e silenciosas. há um jogo de duplos e olhares que comungam da mesma experiencia e se entendem, e materializam o entendimento no gesto da rosa dada. uma flor dada é um compartilhar calado.

mas eis que a morte cala a pergunta, assim como calou o poeta torquato neto, subtexto da canção de caetano. em 1972, no dia de seu aniversário, ele se suicida. o ciclo se fecha com a morte na data de seu nascimento. aos poetas o direito a morte, às pulsões de vida, segue a destruição, e aos abandonos de sentido, cumpre-se outro repleto de sentido. afinal, não seria a morte o sentido da vida?

entre a rosa e a cajuína tomada em fortaleza, a pergunta que devemos nos fazer, para nós, para o outro, para o silêncio, talvez não seja a do sentido, talvez se sobressaia outra, mais incisiva, feita por guimarães rosa: você chegou a existir? a essa, soma-se a afirmação de que a vida é real, e não é, feita de cilada, ela é de viés
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Para dar certo

Para dar certo




Crônica de Camila Heloíse


Para dar certo, um relacionamento não precisa de belos olhos azuis, um corpo escultural e um olhar de parar o trânsito. Tudo isso é bônus ou uma deliciosa consequência. Mas, a pessoa certa não será aquela com o perfume mais caro ou o emprego do ano. Ela precisará simplesmente estar disposta a viver do seu lado sem hora marcada para partir ou, pelo menos, sem o desejo de ir embora antes da hora. Precisa ser capaz de abandonar compromissos secundários, deixar algumas bobagens para depois, ou, hoje em dia, simplesmente ser capaz de passar um dia do seu lado e longe do próprio celular. Não há nada mais cruel do que se apaixonar por alguém que não está disponível para receber o seu amor e muito menos disposto para amar você. Para onde vai o amor que entregamos, quando aquela pessoa que amamos não o recebe? Para onde a rejeição leva este sentimento? O que acontece com o sentimento desperdiçado? Evapora? Seria incrível se ele pudesse voltar para dentro do peito daquele que ama e se transformasse em amor próprio. Infelizmente, não é bem isso que acontece. Quem ama, sem ser amado, demora a perceber o quanto está desperdiçando o seu tempo e a sua felicidade com o pouco que o outro tem a oferecer, ou nem isso. Quando percebemos, é sempre tarde e a recuperação é incrivelmente dolorosa, assim vamos perdendo mais um tempo bom da nossa vida. E não acredito na ideia de que amamos sem esperar nada em troca. Isso não é amor, é caridade. E até mesmo na caridade, muitos de nós esperamos algo em troca. Seja o reconhecimento dos outros ou um consolo moral. Mas o amor não. O amor precisa da reciprocidade para florescer e dar bons frutos. O amor precisa do desejo em comum de duas pessoas dispostas para que possa valer. Por mais que o simples fato de amar alguém nos traga boas sensações e pareça nos preencher, não há quem resista amando sozinho por muito tempo. Ninguém gosta de falar sozinho, sorrir para o outro sem receber um sorriso de volta, ninguém gosta de sair para jantar sozinho, abraçar sozinho e muito menos amar sozinho. Nós sabemos que sentimentos não são baratos para sairmos distribuindo sem nenhum porquê, sem nenhum motivo especial ou a esperança de que alguma coisa se encaixe. Amar requer dedicação, compromisso e um olhar sempre atento para o outro. E ninguém se dedica sem esperar o mínimo de resposta. Quem é que planta uma semente e consegue dizer que não tem expectativas de que ali cresça uma flor? Aqui não há fadas, castelos ou promessas de final feliz. Você pode gastar todo o seu tempo amando um príncipe que nunca estará verdadeiramente afim de você e perder momentos preciosos da sua vida, ou pode prestar atenção ao redor e descobrir que há um sapo bem do seu lado, porém ele está disponível e disposto para amar você – o que me parece infinitamente melhor do que um conto de fadas.


*

Imagem retirada do site We Heart It
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O desafio de escrever

O desafio de escrever




Artigo para a seção Escrita Criativa, por Suellen Moraes


O desafio de escrever o primeiro livro costuma ser um grande obstáculo na carreira do novo escritor. Outras vezes, o principiante consegue escrever uma obra inteira, mas questiona sua qualidade. Adquirir prática na escrita não é tarefa fácil, pois demanda tempo e esforço. No entanto, o escritor pode utilizar alguns métodos para ajudar na autoconfiança e na melhor estruturação de uma história.

Muitas pessoas têm ideias para uma história, mas nem todas se tornam escritoras. Isso quer dizer que muitas vezes uma ideia interessante não basta, é necessário saber desenvolvê-la de maneira interessante. Existem histórias triviais contadas de maneira interessantíssima que acaba por tornar a obra digna de atenção, porém, o contrário também pode acontecer, quando uma ótima ideia não ganha um enredo à sua altura e se torna uma história enfadonha. Em outras palavras: é o desenvolvimento de uma ideia que vai dar a ela êxito ou matá-la.

Portanto, a maneira como se desenvolve uma ideia é crucial. Mas da onde vem essa ideia?

Alguns podem apontar a ideia como fruto de inspiração, mas talvez o termo “insight” funcione melhor. Esse processo pode envolver uma busca ativa pela ideia e, portanto, um processo racional e consciente. Ou também pode sair de um momento de distração como um processo inconsciente. O fato é que as ideias são frutos de experiências, contato com pessoas, visita a lugares diferentes, leitura sobre novos assuntos, filmes e até mesmo acontecimentos banais do cotidiano podem servir de matéria prima para a literatura.

Ryoki Inoue, autor de mais de 1000 livros (!), aborda o assunto da seguinte maneira: “Um livro, como qualquer outro tipo de criação intelectual, parte sempre de uma ideia, de algum fato – concreto ou não – que nos impressiona e que nos leva ao desejo de criar alguma coisa sobre ele”.

Em seguida, ele divide a ideia em três ramificações: a ideia principal (o ponto central de um assunto), ideia complementar (complementa diretamente o sentido da ideia principal) e a ideia geral (o assunto em si).

Com base nesses três tipos de ideias, é necessário escolher a via tomada para criar o tema da obra. Se falta um insight para começar, pode ser mais fácil partir do geral para o particular, melhor dizendo, primeiro escolher a ideia geral para chegar à ideia principal. Quando há insight, normalmente o mais natural é o caminho inverso. 

Story line: organizando a sua ideia 

A partir da ideia, origina-se a story line, definida como a primeira apresentação dessa mesma ideia. Nesta etapa da criação, não é necessário se preocupar com o nome dos personagens, tempo e local da narrativa (a não ser que sejam parte do conflito da história). É apenas a exposição do conflito central, para se referir aos personagens, use termos vagos como uma mulher, um senhor, um professor; escreva sempre no tempo presente, mesmo que a história se passe no passado; e apenas mencione o espaço onde ocorre a narrativa se ele for importante para o conflito. Quanto ao conflito, ele deve ser apresentado de forma objetiva, bem como sua solução ou possível solução. Segue o exercício.

Exercício:

1 – Escolha um tema. Se necessário abra um jornal, uma revista, ligue a televisão e escolha um assunto que te chama a atenção. (será a sua ideia geral)

2 – O que você quer dizer? Por exemplo, se você escolheu como assunto a cura de uma doença, pense no que você gostaria de falar sobre essa doença. Se gostaria de explorar o drama vivido pelo doente, o drama vivido pela família, questões que envolvem o falecimento de alguém, a abordagem médica, fazer uma crítica ao sistema de saúde. Enfim, qual o ponto de vista que você quer adotar? (será a sua ideia complementar)

3 - Em seguida, imagine um conflito dentro do assunto escolhido. Não se preocupe com os personagens, apenas faça referência a eles de maneira vaga (uma mulher, um senhor, um adolescente...).

4 – Escreva o seu conflito em, no máximo, sete linhas.


Story line é a visão geral da história. Ao ter um panorama como esse, é possível observar se a ideia é boa e relevante, ou se já foi muito usada, se possui pouco impacto ou despertará pouco interesse no futuro leitor.



Imagem via Planeta Sustentável
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sábado, 14 de dezembro de 2013
Phasellus felis

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